O Anjo Azul (1001 Filmes #51)

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Nesse filme alemão do diretor Josef von Sternberg (Docas de Nova York), um professor interpretado por Emil Jannings (A Última Gargalhada) descobre que seus alunos estão frequentando um cabaré e decide ir lá para dar uma bronca neles, mas acaba perdidamente apaixonado pela musa do espetáculo, Lola (Marlene Dietrich), largando toda sua vida para ficar com ela.

Sinceramente, eu queria muito gostar o filme, acho que principalmente pela Dietrich que é alguém de quem eu ouço falar há muito tempo mas nunca tinha visto um filme dela, e bom, vocês sabem que “A Última Gargalhada” foi o melhor filme dessa lista até agora pra mim, então também tinha um certo apreço pelo Jannings embora nos anos seguintes ele tenha se mostrado um babaca nazista. Por outro lado o Sternberg já não tinha começado bem pra mim já que eu achei “Docas de Nova York” um filme bem mediano.

Dito isso, eu não achei o filme ruim, mas meu maior problema com ele é que ele usa conceitos dos quais eu já cansei a essa altura da lista. Pra começar a trama, da mulher que é tão linda e sensual que os homens ao redor dela abandonam tudo em suas vidas pra ficar com ela, mesmo que ela não faça nada ativamente para conquistá-los. Nesse ainda tem um fator que piora pra mim, porque o cara é velho, não é interessante e não é rico, mas mesmo assim, quando depois de uma única noite juntos, o professor pede Lola em casamento ela ri mas aceita e eles ficam casados por anos.

Parece existir um consenso entre os filmes da época que o conceito da femme fatale é uma mulher que apenas existe, totalmente passiva, que simplesmente consegue o que quer sem nem dizer o que quer, sem nenhum esforço pra seduzir ninguém, a sedução é automática, e se o conceito da femme fatale iniciou assim, eu sinceramente fico bem feliz que ele evoluiu, porque olha, que coisa mais idiota. É “A Caixa de Pandora” tudo de novo, a mulher não faz nada e todo mundo se mata pra ficar com ela, mas no fim a vilã é ela, mesmo que ela não tenha pedido nada pra ninguém em momento algum. Eu sei bem que ainda vão aparecer vários filmes com essa proposta de algum jeito, do homem seduzido e levado à ruína, mas eu espero que se criem personagens femininas melhores logo, porque do jeito que está não funciona nem um pouco.

Outro ponto do filme é que ele tem uma pegada do expressionismo alemão, mas meio misturado com elementos de filmes mais “comuns” e, sei lá, mas achei que destoou um pouco na maioria das vezes. Algumas cenas nas ruas mostram casas tortas como no “Gabinete do Dr. Caligari”, mas enquanto lá isso além de consistente servia a um propósito no final, aqui é meio que só jogado, porque as cenas dentro do cabaré ou do colégio por exemplo não têm nenhuma característica desse tipo, então em vez de passar uma mensagem parece que foi um cenário reaproveitado, sei lá. A atuação do Jannings também é bem no estilo do expressionismo alemão, com cenas dramáticas de catatonia extrema em atuações exageradas, que eu acho que funcionam em filmes muito artísticos, e funcionam até certo ponto no cinema mudo, onde você precisa demonstrar emoções apenas atuando já que não tem falas, mas esse filme não é nenhuma dessas duas coisas, e só o personagem dele atua assim, de novo gerando algo que destoa do resto do filme e fica estranho.

Enfim, acho que dá pra passar sem ver e espero que tenha mais filmes da Marlene Dietrich na lista porque a atuação dela é o ponto alto desse filme, embora bem simples.

O Anjo Azul
(Der blaue Engel)
Alemanha, 1930
Direção: Josef von Sternberg

Elenco:
Emil Jannings
Marlene Dietrich

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